Participação Política e Pensamento


A partir de 1942, escreveu no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, uma série de artigos sobre temas filosóficos e também sobre questões políticas, aproveitando as oportunidades para burlar a censura e, ao mesmo tempo, estigmatizar o regime estado-novista e a política de Vargas que se inclinava em favor do eixo Berlim-Roma-Tóquio. Nesta mesma época, à frente de um grupo de intelectuais democratas, organizou a Associação de diplomados pela Universidade de Porto Alegre – de que foi presidente–, e que patrocinou a realização de numerosas conferências de orientação antifascista e em prol da restauração das liberdades democrático-burguesas no país.

Nesta época, em consequência de suas posições antifascistas, acabou aproximando-se de jovens e velhos militantes comunistas, muitos dos quais tinham conhecido os cárceres da ditadura varguista. Desde muitos anos vinha se dedicando ao estudo dos clássicos da filosofia e, agora, tem acesso à literatura marxista. Adotou, então, a concepção materialista do mundo e da história de Marx e Engels. Já em 1939, no seu ensaio Materialismo e Moral, tinha rompido com o idealismo como concepção filosófica, para situar-se no campo do materialismo mecanicista, o que lhe fora facilitado pelo conhecimento dos métodos das ciências exatas. Seu primeiro escrito em que realmente tenta valer-se das categorias filosóficas marxistas foi o ensaio Aspectos do Pensamento Mágico, publicado em 1944 na revista FEUPA, órgão da Federação dos Estudantes Universitários de Porto Alegre.

Em fins de 1941, ingressou nas fileiras do Partido Comunista do Brasil, que, desmantelado pela repressão estado-novista, ajudou a reconstruir no Rio Grande do Sul. Ocupou a Secretaria Geral do Comitê Regional até fins de 1945, quando passou o cargo, já com o partido na legalidade, às mãos do operário metalúrgico Abílio Fernandes. Continuou no Secretariado do Comitê Regional até 1947. Em 1946, foi colaborador e diretor do diário Tribuna Gaúcha mantido pelo Partido. Em 1947, foi eleito deputado estadual à Assembleia Legislativa do RGS como o representante mais votado da bancada do Partido, mas, após breve atuação parlamentar, renunciou a fim de preparar-se para concurso de cátedra na Universidade. No mesmo ano, foi levado às barras do Tribunal do Júri acusado de crime de imprensa pelo Delegado Regional do Ministério do Trabalho, um remanescente do Estado Novo.

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        transmissão do cargo de Secretário do Partido, dez 1945 ........                      .......   .  em campanha, 1946                            ....           votando, 3 março 1947


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                                                                       ......  Pinheiro Machado, Dionélio Machado e Otto Ohlweiler, 1947



Na década de 1950, envolveu-se ativamente nas campanhas em favor do monopólio estatal do petróleo - O Petróleo é Nosso - e da preservação dos recursos naturais de caráter estratégico. Foi membro da Liga de Emancipação Nacional. Participou da Convenção Nacional da Liga, realizada em 1953, no Rio de Janeiro, nela apresentando a tese A Livre Troca de Informações e a Defesa da Ciência Brasileira. Na mesma época, escreveu o livro A Energia Atômica para a Guerra e a Paz.

Em 1959, publicou, na Revista Brasiliense, um estudo intitulado Processo de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul, que, tendo sido considerado um clássico da historiografia econômica do Estado, foi republicado na revista Ensaios da Fundação de Economia e Estatística, em 1983.

Em meados da década de 50, voltou a integrar o Comitê Regional do Partido Comunista do Brasil, no Rio Grande do Sul, como delegado do RGS. Por ocasião do V Congresso, que levou a efeito a mudança do nome original de Partido Comunista do Brasil para Partido Comunista Brasileiro e, ao mesmo tempo, elaborou um Programa arranjado de maneira a favorecer o registro do Partido na Justiça Eleitoral, acompanhou a corrente que tratou de reconstruir o PC do B, integrando o primeiro Comitê Regional no Rio Grande do Sul até 1965. Por volta de 1980, aproximou-se da corrente que, ainda dentro do PC do B, propugnava por uma reavaliação da política do Partido, no período da luta armada baseada na concepção maoísta da “guerra popular prolongada” e do “cerco da cidade pelo campo”. Considerando, finalmente, que tanto o Partido Comunista Brasileiro como o Partido Comunista do Brasil se haviam transformado em organizações reformistas, passou a apoiar as teses do movimento comunista revolucionário.

Em abril de 64, foi sequestrado no seu local de trabalho por oficiais do exército, enquanto na sua residência eram devassados arquivos, inutilizados originais de obras científicas por publicar e anotações referentes a estudos em desenvolvimento. Depois de posto em liberdade, respondeu inquérito na UFRGS ante uma denominada Comissão Especial de Investigação Sumária sob a direção do General Jorge Garrastazu Teixeira, no papel de interventor. Ler Defesa escrita do Prof. Otto Alcides Ohlweiler perante a subcomissão da comissão de investigações sumárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 

Em 1979, atendendo solicitação da Direção da ADURGS, Ohlweiler escreveu um relato sobre seu envolvimento com fatos referentes aos processos de expurgos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1964. A carta à Diretoria da ADURGS, datada de 13 de maio de 1979, pode ser lida em relato à ADURGS.

Em 1983, O Conselho Universitário da UFRGS resolveu outorgar-lhe o título de Professor Emérito, que recusou sob o argumento de que não se sentia animado a receber aquela manifestação da mesma Universidade que, em 1964, sob intervenção militar, o pusera diante de um caricato tribunal de repressão, constituído de professores indicados pelas Congregações das unidades da UFRGS, para julgá-lo por suas convicções filosóficas e políticas.

A carta de renúncia, publicada na imprensa, foi transcrita nos anais da Câmara Municipal de Porto Alegre, da Assembléia Legislativa Estadual e da Câmara dos Deputados. Em solidariedade, a Câmara Municipal de Porto Alegre concedeu-lhe o título de Cidadão Emérito, proposto pelo vereador Caio Lustosa por recomendação do Deputado André Forster.

A cerimônia de entrega do Título de Cidadão Emérito concedido pela Câmara Municipal de Porto Alegre aconteceu em 6 de novembro de 1984. O discurso de agradecimento proferido por Ohlweiler pode ser lido em Discurso na CMPA.


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Cerimônia de entrega do título, na mesa Lauro HagemannRiopardense Macedo, Regina OhlweilerRoberto B. Pimentel e o Eng. Jesiel Baumgarten, amigo pessoal do homenageado.


Nos últimos dez anos de vida, Otto escreveu intensamente sobre filosofia política, publicou livros e artigos nas revistas teóricas Práxis, Teoria & Política e revista Ensaios FEE. Eventualmente, colaborou nos jornais Zero Hora, Diário do Sul e Correio do Povo.